O uso de álcool na infância e adolescência está relacionado a uma série de prejuízos na vida do indivíduo, dentre os quais alterações na formação do cérebro, no desenvolvimento intelectual, nas relações familiares e sociais, bem como os riscos associados à intoxicação aguda pelo uso de bebidas alcoólicas. O cérebro humano só acaba de se formar ao redor dos 21 anos de idade, e a exposição ao álcool, antes de completada essa maturação neuronal, pode levar a alterações bioquímicas permanentes que interferem no desenvolvimento intelectual da pessoa, bem como na predisposição a desenvolver dependência química. Isso é bastante preocupante quando pensamos que as estatísticas brasileiras apontam que a idade de início de consumo de álcool é de 12,5 anos, e que nove entre cada 10 adolescentes já fizeram uso desta substância.
Além de aborto e parto prematuro, o álcool pode causar alterações na formação do bebê. Essas alterações são decorrentes da influência do álcool dentro do útero materno, pois se a mãe faz uso de bebidas alcoólicas o álcool ingerido pode ultrapassar a barreira hematoplacentária (passar do sangue da mãe para a placenta e dela para o feto), gerando problemas tanto na formação de órgãos quanto no desenvolvimento neurológico e intelectual futuro do bebê. Estudos têm demonstrado que o álcool, ao entrar em contato com o embrião, pode causar alterações na expressão de determinados genes, e que isso modificaria o processo saudável de desenvolvimento do feto. Dentre esses problemas, o mais grave é a SAF, considerada a causa mais comum de retardo mental infantil de natureza não-hereditária. Esta síndrome é caracterizada por diversas malformações na face e alterações globais do funcionamento intelectual que englobam dificuldade de aprendizagem, déficit de atenção, dificuldade na resolução de problemas e de socialização. Além disso, um bebê que foi sistematicamente exposto a bebidas alcoólicas intra-útero por uma mãe dependente de álcool pode nascer apresentando uma síndrome de abstinência de álcool, o que é mais raro, porém preocupante visto que pode caracterizar risco de vida agudo para esta criança.