O consumo de substâncias psicoativas sempre existiu na história da humanidade (Guimarães et al., 2004; Sodelli, 2010). Em praticamente todas as culturas e povos encontram-se referências ao uso esporádico de drogas durante os rituais religiosos e cerimônias grupais, variando somente a quantidade, o tipo e a forma de consumo (Vizzolto, 1987; Seibel e Toscano, 2004). Para alguns autores, o fenômeno do consumo de drogas se deve a fatores específicos e característicos do momento histórico em que se vive (Guimarães et al., 2004; Schenker e Minayo,
2005). Nesse sentido, sugere-se que a problemática atual referente ao uso indiscriminado de drogas possa ser considerada à luz do aparecimento da sociedade de consumo, que estimula o abuso, o exagero e o desequilíbrio (Osava, 2002). Sendo assim, compreende-se o uso de drogas mais como um sintoma do que como a causa de problemas em nossa sociedade (Guimaraes et al, 2004).
No Brasil e em muitos países, a droga ainda é considerada, prioritariamente, como um problema de âmbito judicial, ao considerá-la sob o prisma da ilegalidade (Silva 2008). No entanto, o fenômeno das drogas envolve múltiplos aspectos, tais como: psicológicos, sanitários, educativos, políticos e sociais, exigindo integralidade de saberes no que se refere a ações preventivas, de controle e de tratamento (Coutinho, Araújo e Gontiès, 2004). Cabe salientar que, embora o uso de drogas possa representar um sintoma da sociedade atual, os prejuízos e consequências dele decorrente não são inócuos e precisam ser tratados com cautela (Silva, 2008).
Nas últimas décadas, o uso indiscriminado de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas tem causado impacto negativo em nível individual e social, estando diretamente relacionado ao aumento da criminalidade, marginalização e violência (Coutinho, Araújo e Gontiès, 2004; Barros, 2004, Botti, Lima e Simoes, 2010).
Nessa perspectiva, especial atenção tem-se voltado ao aumento exponencial do consumo de substâncias por parte da população jovem, representando um grave problema mundial de saúde pública (Baus, Kupek e Pires, 2002; Castanha e Araújo, 2006). Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que quase dois terços das mortes prematuras e um terço da totalidade de doenças em adultos é associada a doenças ou comportamentos que começaram na sua juventude, como o abuso de drogas, principalmente o álcool e tabaco (OMS, 2006).
A maioria dos estudos epidemiológicos brasileiros sobre o uso de drogas na população jovem vem sendo conduzidos no espaço escolar, pelo Centro Brasileiro de Drogas Psicotrópicas, desde da década de 80 (1987, 1989, 1993, 1997, 2004) (Baus, Kupek e Pires, 2002; Souza e Silveira Filho, 2007). Salienta-se que estudos epidemiológicos são importantes na medida em que descrevem e retratam a distribuição dos estados ou acontecimentos relacionados à saúde de uma dada população (Galduroz e Caetano, 2004). No contexto do uso de drogas, tais estudos são de fundamental importância para avaliar a situação em prol do desenvolvimento futuro de estratégias preventivas e/ou tratamento (Bucher, 1992, Guimarães et al. 2004).